quarta-feira, 28 de março de 2012

Todo dia ela faz tudo sempre igual Acordar para ser engolida

 

Segunda a sexta, é sempre a mesma coisa: vejo a cidade acordar e vou acordando junto. Vou assistindo o dia raiar e me parece que pego o melhor momento do céu de SP. Pode até não ter amor em SP, mas o dia nesse horário meio noturno é bem amoroso com seus moradores. A beleza do dia é isso…

Ainda meio sonolenta, não me escapaM as inúmeras expressões dos trabalhadores, que, como eu, têm de acordar quando ainda é escuro. De todo jeito, me sinto uma estranha naquele “ônibus-ninho” das 5h40. As pessoas me olham de cima a baixo, reconhecem que de algum jeito eu não sou como eles. Um dia protegi com minha sombrinha uma senhora, que ia tomar um banho de lama lançada por carros num dia de chuva. Ela me respondeu, meio agradecendo do jeito dela: “Me desculpa, mas é que aqui só tem peão, minha filha. Esses motoristas não se importam com a gente, não.” Não tive nada a dizer a ela. Desde então, as pessoas me dizem isso todas as manhãs: “não se importam com a gente, não”.

Também tenho eu uma sensação que deve transparecer em minha face. Para mim, parece que acordo para ser engolida pela cidade. Acho que tenho acordade com essa cara de cansaço da vida. Para ser sincera comigo mesma, tenho que admitir, a cidade nunca morou em mim. Tem sido o oposto mesmo, sou eu que moro nela. Não tenho uma ligação sentimental com São Paulo. Onde está o muro azul de Caetano Veloso? É desse tipo de coisa que sinto falta.

Meus amigos locais que me perdoem, mas já não vejo muito sentido nesse tipo de vida urbana. Digo isso porque(,) se tem alguma coisa aqui que o valha, são vocês. Mas eu quero ter uma vida em uma cidade decente, que zela por seus moradores. Mudo eu ou mudo a cidade?

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